Da minha vida de peão Só recordação eu tenho guardada Da peonada gritando E um berrante tocando chamando a boiada Das tardes quentes de agosto Suor no meu rosto coberto de pó De quebrada em quebrada Nas longas estradas só Deus tinha dó No sertão de mato grosso Eu era bem moço mas tinha coragem Vivi no pantanal Uma vida infernal laçando selvagem Junto com meus companheiros Bravios pantaneiros tiramos de lá No perigoso transporte Brigando com a morte a cada lugar De passo a passo a boiada Uma onça pintada às vezes seguia Querendo matar sua fome E o cheiro do homem a fera temia O som do berrante manhoso Andar vagaroso da tropa cansada Foi uma brutalidade Mas tenho saudade da vida passada Ao deixar o estradão Para o meu coração foi um forte veneno Minha rede macia Que nela eu dormia até no sereno Caminhões boiadeiros Deixou os pioneiros com a vida arrasada Acabou o berrante O transporte elegante de uma boiada