Éramos putos, apenas putos ingénuos O bairro era o nosso lar E éramos fruto de um povo estrangeiro Que imigrou para tentar sonhar A escola mais perto era diferente de tudo que havia No meu mundo, custava estudar Não havia afeto, eles eram brutos, chamavam-nos rudes Batiam e diziam que essa gente não se aplicava Eu baldava, chumbava, não chorava Porque eu já sentia raiva de uns betinhos Que os pais mimavam, gozavam Diziam escola é segunda casa, mais as dos diferentes era o zoo Eu revoltei-me, bati num, cansei-me e deu boom Só estava cheio, não era o meu fascínio Suspenderam-me no quinto armaram um circo Estavam com receio, disseram que eu era assassino Eu só me sentia bem no bairro, ali via um lar Ninguém ligava língua e cor E sempre que eu mudava de cenário voltava revoltado Porque o que eu sentia não é amor Perdi o respeito em casa Duvidavam que eu era um bom miúdo Foi uma fase complexa pra mim não passou de um absurdo Ficava em casa de segunda a sexta sozinho do hood hum E foi aí que conheci o mundo obscuro Lidava com crianças como eu Quando não és maduro Qualquer motherfucker tu vês como um Deus Esse bairro foi de oxigênio a ratoeira e fui réu O que é que eu fiz para merecer tal prémio Se os processos são troféus Se eu não tivesse batido num, não seria suspenso no ciclo Concluía o liceu, investia em outros currículos O meu destino quem escreveu deu uma missão para pitbulls E hoje quem seria eu se pulasse esse capítulo Estou curioso, na verdade, não aprendi nada do lado perigoso Porque a vida me deu réguadas ainda moço Perdi brothers, nenhum safou-se O que vivo hoje é milagroso E a vida de boss, que a gente ambicionava fica longe Eu só me sentia bem no bairro, ali via um lar Ninguém ligava língua e cor E sempre que eu mudava de cenário voltava revoltado Porque o que eu sentia não é amor Nem tudo que brilha é ouro Nem todo baú tem tesouro Todo progresso vem com choro E é do desconforto que bezerros se tornam touros