Quem é esse homem estranho Que com seus olhos castanhos Me observa do espelho Acaso será o avesso De alguém que foi esquecido E de si anda perdido Como muitos que conheço Olho e não me reconheço Nesse rosto envelhecido Olho e não me reconheço Nesse rosto envelhecido Os olhos onde o espanto Punha brilhos viram tanto Estão opacos assim O tempo sulcou as marcas Nesse rosto como tarcas De uma contagem sem fim Na alma não envelheço Por isso me desconheço Na imagem gasta no espelho Aparo a barba grisalha Passo o pente no cabelo Ao tempo que me convenço Não sou meu corpo que vejo Refletido a minha frente Sou as ideias que tenho Eu sou aquilo que penso Eu sou aquilo que penso Por isso esse não sou eu E a alma que Deus me deu Continua a mesma ainda Entendo melhor agora Por que ela irá embora Quando o coração parar O espelho nos ensina Que o que vemos se termina E o eterno estará sempre Muito além do nosso olhar O espelho nos ensina Que o que vemos se termina E o eterno estará sempre Muito além, muito além Sempre muito além, muito além