O tempo passa veloz Que a gente não acompanha A corrida ele ganha E quem perde somos nós Ele acabou meus avós E meu pai na caminhada Deixou mãe enviuvada Com sofrimento graúdo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada Eu fui rever a casinha Que nasci e cresci nela Já não tinha mais janela E porta também não tinha Só encontrei na cozinha Uma panela quebrada E a corrente enferrujada Do meu cachorro veludo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada A casa não parecia A que nós morava não Parte do teto no chão Dentro sombra não havia A nossa lavanderia Estava toda quebrada Do cachimbo de vó amada Eu achei só o canudo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada Vi o fogão destruído Todo cheio de poeira Do teto toda a madeira O cupim tinha comido A cama de pai querido Durmir com mamãe amada Estava toda esbagaçada Toda em pedaço miúdo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada O guarda-roupas estava Cheio de barata e ratos Quebrados eu vi os pratos Que mamãe tanto zelava A faca que mãe usava Pra cortar carne assada Tava toda enferrujada Com um ferrugem agudo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada Detrás da casa no oitão Eu vi todo abandonado O carro de boi quebrado Sem roda, eixo e cocão Não encontrei o facão Nem a foice e a enxada Que pai na luta pesada Trabalhou por ser forçudo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada Não tinha mais no terraço O banquinho de madeira De tamborete e cadeira Não tinha nem um pedaço Por isso esse mote eu faço Com verso, rima e toada Sobre a casa abandonada Que hoje está sem conteúdo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada Depois que eu revirei A casa por todo canto Eu derramei tanto pranto Que calcular eu nem sei Pra ela as costas virei E saí por uma estrada Deixando a casa estragada Que antes foi meu escudo O tempo acaba com tudo E não presta conta de nada