Quando tem uma seca no sertão Nosso povo padece até demais Falta pasto no chão pros animais E para o pobre na mesa falta o pão O roceiro que faz a plantação Vê a mesma na cova se acabar Ele diz bem tristonho a chorar Este ano ninguém vai ter fartura Que sem chuva na terra seca e dura Não tem como a semente germinar Seca rios açudes e barragem E a sede invade o sertão Só trazendo sufoco e aflição Para o gado sem água e sem pastagem No terrível calor da estiagem Seca as matas do meu sertão inteiro Sem semente, sem sombra e sem poleiro Muitas aves da nossa região Batem asas pra outras terras vão Sem destino e também sem paradeiro O Sol quente bem quente estorrica Todo o verde da mata nordestina Que na seca cruel e assassina Nada verde na nossa terra fica Ninguém ouve a cantiga da peitica Sem folhagem os pássaros não faz farra Na lagoa não vê-se a algazarra Que um grupo de sapos executa E na mata pelada só se escuta A cantiga bem fina da cigarra Pelos campos se vê muitas caveiras De bois, vacas, bezerros e outros mais Não se vê inhambus e nem preás Pelos campos e nem nas capoeiras Os calangos se escondem nas pedreiras Pra fugir do calor muito cruel Urubus têm fartura a granel Que o gado que morre eles consomem Só escapam jumentos por que comem Casca seca, sabugo e papel Muitos pássaros da nossa região Vão embora embusca de outros ranchos Que as matas viradas em garranchos Não lhes dá mais abrigo e proteção Ninguém ouve a cantiga do carão O profeta da chuva e bom cantor Fome, sede, doença e horror Do nordeste inteiro toma conta Estorrica o sertão de ponta a ponta Na quentura do Sol abrasador De manhã o roceiro bem contente Se levanta dum sono bem gostoso E com seu coração esperançoso Abre a porta pra ver se vê somente Uma barra de chuva no nascente Mas aí sua fé logo se arrasa Porque vê é o Sol da cor de brasa Bem vermelho surgindo no nascente Aí ele tristonho novamente Vai rezar e chorar dentro de casa Nordestino faminto vai embora Pra São Paulo, pro rio ou pra brasília Abandona o lar e a família E a terra querida que ele mora Vai atrás dum emprego lá por fora Pra mandar prafamília algum dinheiro Chega lá só encontra desespero Desemprego e violência também Não consegue ganhar o dinheiro nem De voltar pro nordeste brasileiro Uma seca sem dúvida alguma faz Um estrago danado no nordeste Que no mundo não há nenhuma peste Que supere uma seca bem voraz Pros humanos e para os animais Ela traz um terrível sofrimento Porque falta água e alimento Que sustenta a vida com certeza E a seca com a sua dureza Escasseia da vida o sustento Como é triste a gente observar Num período de seca prolongado Tanto pai de família ser forçado A entrar no mercado e saquear Não quer ser um ladrão mas vaioubar Alimento pra cada filho amado E depois de vê o filho saciado Satisfeito e feliz de bucho cheio Com o que ele tomou do que era alheio Vai chorar se sentindo envergonhado