Eu tenho tanto pra botar pra fora O peito aperta, a alma chora e a vida na penhora Recepção já altas horas, eu e uma senhora Uma demora, o doutor vem me entrega a bomba e vai embora quando tudo estoura Agora é história, você em coma e me perguntam se eu quero te ver Só me lembro de responder: Eu vou Cê tava inconsciente mas posso jurar, te vi se mexer Quando cheguei no seu ouvido e disse: Eu te perdoo Quando eu precisei cê não tava comigo Porra, só eu sei a falta que fez tá do seu lado Em Minas eu passei anos sonhando em morar contigo E quando chegou a vez, simplesmente fui rejeitado Na época eu senti raiva, confesso, muita raiva A mesma que expresso hoje enquanto você se vai E o tempo que tudo sabe me mostrou que o que eu levava Num era raiva, era só vontade de ter um pai Enquanto escrevo chove, enquanto chove eu choro Enquanto choro, xingo, Depois que xingo eu oro Questiono Hórus e o Orum, sina densa que cansa Difícil aceitar que o que era presença agora é lembrança Era Natal e nós no hospital Tipo assistindo um filme sabendo o final Sem engolir o fim que seu papel levou Como vou explicar pro Cairo que o Papai Noel pode até vim, quem num vem é o vovô Conversas que nunca tivemos, e se eu disser que não tá doendo eu tô mentindo Será que é muito tarde pra contar que me arrependo? E se eu disser que entendo a distância eu tô fingindo E digo mais, tudo que eu disser sem você pra ouvir É equivalente ao que eu não disse com você aqui Pai, conversas que nunca tivemos Ou pior, conversas que nunca teremos É louco que entre todos meus amigos fui dos poucos que teve com o pai Ainda mais até os 30 e poucos e tem outros que ainda garotos Sofreram com o oco de um escroto Que se trombam hoje dão o troco em soco (Né não?) Eu sei que cê também tava longe do seu E há questões enraizadas demais no nosso eu E há bastões que a gente passa pra frente involuntariamente E quando nota é tarde, um inocente já sofreu É um labirinto, Teseu! A vida e seus nós Lembro, cê me deu um livro que peguei pra ler anos após Aí vem a surpresa num choque agudo No livro tinha uma carta sua pedindo desculpa por tudo De escudo, meu ego de escaravelho cabreiro Fingindo ser graúdo, eu tomo conta do meu sombreiro Mas miúdo, comprava o mesmo xampu do seu banheiro Então quando eu lavava meu cabelo eu sentia o seu cheiro Contudo, houve um deserto, autoestima de inseto De certo, que alguém ouça numa caixa de mil watts Meu lamento ao saber que se quiser sua voz por perto Agora é só através de um áudio antigo do whats Pai, eu demorei pra dizer que te amo Já adulto, tava engasgado e quando eu disse fácil num foi Espero que um dia aí do outro lado me perdoe E se puder passa num sonho meu qualquer pra dizer oi Conversas que nunca tivemos, e se eu disser que não tá doendo eu tô mentindo Será que é muito tarde pra contar que me arrependo? E se eu disser que entendo a distância eu tô fingindo E digo mais, tudo que eu disser sem você pra ouvir É equivalente ao que eu não disse com você aqui Pai, conversas que nunca tivemos Ou pior, conversas que nunca teremos