A chama apagou no espelho Só restou meu rosto sem cor Deixei o lar pra trás no breu Carregando o peso do rancor A estrada chama pelo nome Que eu nem lembro de ter Caminho cego no nevoeiro Como quem quer se perder Cada passo mais profundo Cada sonho, uma prisão O céu virou concreto E a luz, condenação Descendo Não há chão, não há perdão Descendo Com o vazio na direção Promessas sussurraram ouro Mas só encontrei ferrugem e dor O tempo ri das minhas falhas Como um velho traidor A juventude era um feitiço Que agora eu vejo ruir O espelho mostra um estranho Que não sabe mais fugir As vozes dizem: Volta Mas o caminho selou Quando se dança com o abismo O abismo é quem guiou Descendo Para dentro do que sou Descendo Onde a escuridão queimou Se um dia eu voltar pro início Que eu não seja mais o mesmo O que fui morreu no grito Enterrado em mim – em segredo Descendo Não há luz onde estou Descendo E o fim já começou