Minha História

Rolando Boldrin

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar 
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar 
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente 
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente 

Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde 
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe 
Esperando, parada, pregada na pedra do porto 
Com seu único velho vestido cada dia mais curto 

Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto 
Me vestiu como se fosse assim uma espécie de santo 
E por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher 
Me ninava cantando cantigas de cabaré 

Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança 
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança 
E não sei bem se por ironia ou se por amor 
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor 

Minha história é esse nome que ainda hoje carrego comigo 
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo 
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz 
Me conhecem só pelo meu nome Menino Jesus
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