Foi medonha a tempestade Que a agulha quase enlouquecia E era tal o negrume do céu Que não havia noite nem dia Já eu pensava na morte Fez-se súbita acalmia Que nos deixou à sorte Sem vento na maresia Relembrei velhos pilotos Relatos destas andanças Piores que certos maremotos Às vezes só certas bonanças Reparamos os danos nas velas Que o vento havia de chegar Mas foram passando os dias E nós sem nada mais a inventar E era medonha a calmaria Segui voo de albatroz Fisguei peixe-voador Cantei para ouvir a minha voz Recapitulei cada amor Li a noite constelada Na folha do firmamento Vi a várzea azul semeada De águas sem movimento A mando do capitão Fizemos procissão Missa e novena cantada Pescamos um tubarão E depois de o cegar no convés Com ele fizemos tourada Mas do vento de feição É que ninguém sabia de nada E era medonha a calmaria Quase a dez dias de pasmo No alto mar sem aragem Com o Sol tisnando a prumo Pus fim à minha viagem Tão farto de calmaria Pus o pé na amurada E ali me fui na lezíria Que o mar se fez margem lavrada Calentura, calentura, calentura