Olha o cigano Chegou à vila Com o chapéu preto e o mundo na mochila Abriu o saco Montou a banca Subiu o pano e fez uma feira franca Viva o cigano Viva o cesteiro Que vende o mundo por pouco dinheiro Ai, venham todos a correr para vê-lo Junto à igreja matriz A equilibrar uma escova de cabelo Mesmo na ponta do nariz Olha o cigano Entre as mulheres A vender meias, colchas e talheres Vende perfumes Terços e pentes Anéis e sedas e pasta dos dentes Vende santinhos Pedras de jade E as pomadas da eterna mocidade E sabe dançar a dança da chuva E deitar as cartas à gente Engolir fogo e caminhar sobre o vidro E encantar uma serpente No fim do dia Quando ia embora Eu quis saber onde é que o cigano mora Mostrou-me um mapa De cor sumida Onde corriam os rios da vida Eu moro aqui Eu moro além Moro no mundo na terra de ninguém Viva o cigano dos quatro caminhos A tocar flauta de pan Entre tesouras, guarda-chuvas e navalhas O seu destino Deus dará VIVA O CIGANO, CIDADÃO DO MUNDO! Viva o cigano Um aldeeiro Que vende o mundo por pouco dinheiro Viva o fulano No seu vaivém Que tem vivenda na terra de ninguém Viva o cigano Viva o paisano Que já é noite e vai cair o pano E fez comigo um negócio da China Vendeu-me a terra de ninguém E pelo preço irrisório de um sorriso Vendeu-me as estrelas também Viva o cigano! Viva o paisano! Viva o sicrano! Viva o fulano! Viva o cigano! Viva o cigano! Viva o paisano! Viva o sicrano! Viva o fulano!