Plantão da madrugada, luz fria, coração gelado Cê chega apressada, protocolo atropelado Dois fentanil, três midazolam, entubação sem dó Mas sem receita, só urgência, ó! Leva tudo no amor, na confiança da união Mas some no corredor e não volta com a prescrição Enfermeira! Cadê a receita? O plantão tá no fim e eu tô na beira Com o livro de controle em branco, sem livramento Você dormindo no repouso, sonhando com aumento Não durmo direito, não venha com rasura Se errar o paciente, eu viro a figura Que a Vigilância escolhe pra dar punição Com nome cravado na legislação Cê me pede ajuda pra saber o que seca barriga Mas não lembra da receita do Tramal amiga E quando resolve trazer já é pra complicar Doutor botou dez ampola será que dá pra validar? Não dá, meu bem, assim não tem perdão A ANVISA já sente o cheiro da infração E a Vigilância bate aqui feito batida de amor Mas eu sou só um plantonista, não sou ator Enfermeira! Me escuta com o coração Traz a receita antes do fim do plantão Pede pro médico quando for o acordar Não esquece do papel me ajuda a não chorar E agora como fica minha situação? Se assinarem sem dose é complicação Tô com medo de alguém me enquadrar Vou tomar Dramin pra poder deitar Não é por mim, é pelo prontuário Pelo mapa de dose, pela linha do diário Pra eu não virar presidiário, pela vida E pela minha escala já sofrida Se um dia eu sumir, não for mais achado Pode saber: Tô preso num plantão mal documentado Pendurado no livro, carimbado no desespero Mas ainda te espero com um impresso, um roteiro Enfermeira! Cadê a receita? Prometo nem reclamar se vier de primeira Mas se deixar pra depois, juro, vou surtar Vou virar lenda no hospital sem poder me aposentar