Sou eu, a flor do mulungu Brilham os olhos d’água Orayeyê! É de mamãe Oxum! Sou Ponciá consagrada Entregue às palavras e ao axé das ancestrais Se tempos atrás ecoavam vozes do porão Hoje reescrevo a história Poesia a despertar nas pretas mãos Nos becos da minha memória Meu verbo é ouro de aluvião Meu verso é barro de artesão Pra Folia de Reis, chama vô e chama tio Na Folia de Reis, vou vivendo por um Fio Ô Lê Lê, lá vem batuque, pra cangira começar Angorô, vira menino! Angorô, não vou virar! Não é fácil emergir nesse contraste Benevuto, a maldade, não quer me ver sorrir No refúgio desses becos e vielas De mãos dadas com Sabela Eu só quero ser feliz O Rio que me acolheu me ensinou também a florir Vi muita gente de lá no rosto negro do povo daqui Sou eu quem dá voz à caneta que silencia o fuzil Me torno imortal no livro Brasil! Malungo! Que Negro-estrela possa ser reconhecido Sem o choro de um futuro interrompido Por todo preto, escreviver! A gente combinamos de não morrer! Combinamos de não morrer! É Kizomba de preta literatura! É escrita sem censura no Império a florescer! Casa de preto também é academia Serrinha! Ponciá Yalodê!