Já não caibo numa casa Onde o espaço é todo meu Não são obras que me salvam Eu só sei crescer Durmo de janela aberta Tenho os braços no estendal Eu podia acenar-vos Mas só sei crescer Leio o topo da estante Tudo livros de engordar E eu preciso abreviar-me Mas só sei crescer Qualquer palmo que me meça É de mão sem cicatriz O que eu sou é largo de ossos Pois só sei crescer Eu só me caibo cá dentro Mas bato no peito Por estar com meu ar rarefeito Eu inicio o discurso Citando o sujeito Primeira pessoa é preceito Eu nem cá dentro me caibo Pois bate a cabeça no teto E cai na travessa Eu já calei o discurso Que a língua tropeça Mas o gigantismo amordaça Eu já invento virtude No pico não peco Lá em baixo ficava marreco Estou tão em-mim-mesmado É tiro ao boneco Gigante barrado no beco Eu já não sei inventar-me É só mais do mesmo Fermento em massa de autismo Eu nem de mim já me pasmo Há mar e marasmo Há ir e voltar aforismo Mas eu só sei crescer