Quando o tempo for remendo Cada passo, um poço fundo E esta cama em que dormimos For muralha em que acordamos Eu seguro E o meu braço estende a mão que embala o muro Quando o espanto for de medo O esperado for do mundo E não for domado o espinho Da carne que partilhamos Eu seguro O sustento é forte quando o intento é puro Quando o tempo for remindo Cada poço eu for tapando E esta pedra em que dormimos Já for rocha em que assentamos Eu seguro Deixo às pedras esse coração tão duro Quando o medo for saindo E do mundo eu for sarando Dessa herança eu faço o manto Em que ambos cicatrizamos E seguro Não receio o velho agravo que suturo Abraços rotos, lassos Por onde escapam nossos votos Abraso os ramos secos Afago, a fogo, os embaraços E seguro Alastro essa chama a cada canto escuro Quando o tempo for recobro Cada passo abraço forte E o voto que concordámos É o amor em que acordamos Eu seguro Finco os dedos e este fruto está maduro Quando o espanto for em dobro O esperado mais que a morte Quando o espinho já sarámos No corpo que partilhamos Eu seguro O que então nascer não será prematuro Uníssonos no sono O mesmo turno e o mesmo dono Um leito e nenhum trono Mesmo que brote o desabono Eu seguro Que o presente é uma semente do futuro