Frio dentro da carne O eterno vazio De uma casca com mil devaneios Se espalha com graça e rancor Frio atrás dos olhos Encarna no olhar Com escárnio e pesar e enraiza A base de um vivo pavor Com pés na neve a trilhar Unhas quebradas a rasgar a carne São mil flocos frios O calor se partiu E do céu emergiu a nevasca Frio debaixo da pele Espasmos de dor Construindo temor pela vida Exalando brados ao ar Frio em torno dos ossos Entorna o sofrer Da tortura internalizada E empoça até congelar Com pés na neve a trilhar Unhas quebradas a rasgar a carne São mil flocos frios O calor se partiu E do céu emergiu a nevasca Pai nosso, vinde A um tempo profano De um alvo e cerúleo terror Com graça celestial Livrai-nos do mal E banhai-nos de glória invernal Lava minh'alma Na cascata sagrada de dor Salve minha graça E me arranca deste purgatório infernal Com pés na neve a trilhar Unhas quebradas a rasgar a carne São mil flocos frios O calor se partiu E do céu emergiu São mil flocos frios E dez mil calafrios O calor se partiu E do céu emergiu a nevasca