Lá vem Maria das Graças Por onde Maria passa Provoca uma confusão Para tudo e de repente Para bonde e lotação Para ônibus, para trem No meio da populaça Somente escutando a graça E Maria das Graças passa Sem fazer graça a ninguém Maria das Graças mora No fim da rua da aurora No bairro da liberdade E a vi tão tosco o mocambo Sem a menor vela idade E todo mundo já sabe Que a noite a Lua sutil Atira beijos de prata Sobre o mocambo de lata Da mulata mais mulata Das mulatas do Brasil Faz tempo que ninguém ver Maria não sei porque O mocambo está fechado E povo todo interroga Por onde ela tem andado? Enquanto a pergunta cresce A Lua desaparece E só tristeza floresce No mocambo abandonado Mas sabe o que fez Maria? Juntou o que possuía E partiu para estação Entrou no trem apressada Debruçou-se num vagão Soltou um suspiro imenso Sonhou com outra cidade Depois chorou de verdade Encarcerando a saudade Na gaiola do seu lenço O trem apitou partiu Maria sentou-se e riu Olhos tristes corpo bambo E acenava comovida Em direção ao mocambo Entre apitos infernais O trem corria corria Pressuroso parecia Que enciumado dizia Maria não volta mais A Maria, não vem mais Maria não volta mais O bairro o povo o mocambo Tudo ficou para trás A Maria não vem mais Maria não volta mais A Maria não vem mais Maria não volta mais