Um disparo Não, mãe, mãe, socorro, alguém me ajuda, socorro, socorro Som de viatura, ambulância Um dia como esse eu não desejo pra ninguém Minha voz embargada, das minhas lágrimas sou refém Nunca imaginei passar por essa situação Ver minha mãe ali deitada em um caixão Aperto sua mão, e grito pelo amor Meu Deus, por que ela? Onde foi que ela errou? O silêncio é grande, é quase absoluto Ouço prantos, meus irmãos em choro profundo Sei que nesse mundo são mais tristezas que alegria A perda, o luto, o sofrimento em demasia Palavras de conforto, o abraço da família Os pêsames dos manos que conheciam minha rainha Queria que tudo isso não passasse de um pesadelo Infelizmente é real, começou o cortejo pro enterro Coroa de flores, caixão lacrado, provação ao extremo Na febre reconheço que a vida é como vento Mil fitas nessas horas assaltam minhas ideias Com sede de vingança, minha alma espinha gela Só de pensar que nunca mais vou te ver Mãe, já não adianta eu dizer que amo você Na memória, uma guerreira em palavras, poesia Meu rap, uma história, mais um número, estatística Uma vítima entre milhares, feminicídio sem narrativa Sou uma voz que clama por justiça a todas as vítimas O amor se confunde com o ódio A bela rosa também pode machucar Quem ama de verdade sempre cuida Que amor é esse que um dia pode te matar? O índice é absurdo de mulheres assassinadas No país do carnaval, futebol, cerveja gelada Gelada é a mente do psicopata com uma arma A estupidez do monstro dissemina ódio em massa 12 mulheres são mortas por dia no Brasil De forma hostil, como nunca já se viu 135 casos de estupros por dia Estática brasileira, uma realidade agressiva 5º país no mundo no ranking mundial Que mais mata mulheres por motivação banal Crimes hediondos, estupros coletivos Cresce assustadoramente o índice de feminicídio Lei Maria da Penha já não intimida Os Jacks agem friamente, prolifera a pedofilia Covardes agressivos atacam no psicológico Agressão verbal causa efeitos neurológicos Distúrbios trazem lembranças de uma infância roubada Grande é o trauma, partes íntimas molestadas Ameaças, descontrole, assédio, violência Por bel-prazer, escraviza, abusa da inocência Vários casos, quantas histórias, é inacreditável Inadmissível, mas são fatos consumados Infelizmente é assim, mas não vou me conformar Punho cerrado, peito aberto, em verso vou denunciar O amor se confunde com o ódio A bela rosa também pode machucar Quem ama de verdade sempre cuida Que amor é esse que um dia pode te matar? A todas as mulheres que sofrem Ou que sofreram todo tipo de violência Essa música é dedicada em memória De Doralice de Fátima Cantalicio Assassinada em agosto de 1999 Viva Maria da Penha Maia Pela coragem e resistência Rakel Reis, a Fúria Feminina das ruas de AP. GO