Pequenos Delírios Domésticos

Sérgio Godinho

Composición de: Sérgio Godinho
Lá em casa, minha amiga 
(deixe que lhe diga) 
ele abre a boca, eu dá-me o sono 
só gostava que nos visse 
aquilo é uma molenguice 
aquilo anda muito morno 
eu bem tento pôrao lume 
mas depois, como é costume 
vai-se o fogo e vai-se o gaz 
volta-se ao mesmo marasmo 

Eu bem ponho lingerie, oh oui 
dou-me ares de Mata-Hari, vê-de 
faço pratos e petiscos 
noz-moscada, corro riscos 
faço riscos na parede 
a prisão é na cozinha 
e a capela no chuveiro 
e na cama há um canteiro 
onde as flores não têm luz nem cor 

Se eu lhe contar um segredo 
(a medo...) 
fico mais desabafada 
no outro dia ouvi a chave 
a rodar lá pelas nove 
e fingi-me desmaiada 
vê-me uma reles beijoca 
se isso é que é o boca-a-boca 
não vou querer que mais ninguém me salve 

É certo que me distraio, saio 
como p´ra longe do mundo 
subo à torre, toco o sino 
e num belo submarino 
vou até bater no fundo 
depois venho respirar, o ar 
que me coube nesta vida 
volto ao ponto de partida 
são quase horas de ele querer jantar 

Ai, amiga, se eu chegasse (ah, se...) 
ao momento da verdade 
dizia-lhe assim à bruta: 
"Mata-ratos e cicuta 
tomarás em quantidade" 
a hora do telejornal 
era o momento ideal 
tanta guerra e tanta fome 
e o meu crimezinho incólume 

Deixava-o morto e sentado, de lado 
com as mãos ainda ocupadas 
numa o controlo remoto 
e na outra o totoloto 
em ambos as unhas cravadas 
ia comprar espumante, ante 
a surpresa do merceeiro 
que malicioso e matreiro 
perguntaria: "a quem vai brindar?"
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