A geada é o preço que jamais desconta Nem mesmo um real no gauderiar que entangue Branqueia tauras e regela o sangue Mas se derrete quando o sol desponta. Se faz espelho no lagoão da sanga Adoça as frutas e madura o trigo Cinza no tempo que nos encaranga Paguei o preço de brincar contigo. Vai-se um ano, mais outro, não me iludo Foram tantas lichiguanas pelegueadas Eu sinto frio, mas apesar de tudo O meu destino é andar quebrando geada. Iguais as que quebrei na juventude Pisando vidros nas manhãs de gelo As mesmas geadas da gamela do açude Trago comigo esfarinhadas no cabelo. Manta gelada que não tem fragância E se faz água pra morrer neblina As geadas pretas que esmaguei na infância Viraram cinza pra branquear minha crina.