Saí no voo de uma seriema E avistei um casal de louro Um ninho de casaca-de-couro Feito de galhos de jurema Um jabuti com problema Pra chegar num pé de umbu E as flores de uma cumaru Um beija-flor farejando Vi uma sabiá almoçando Num pé de mandacaru Um gato-do-mato vermelho Na tocaia de um preá Senti de longe um gambá Tirando água do joelho Vi mocó do tamanho de um coelho Em lajeiro por cima da Serra E um caboré velho de guerra A boca da noite num morro Vi tamanduá e cachorro Brigando e bolando na terra Peguei um riacho descendo E me topei num juazeiro Embaixo aquele mosqueiro E um urubu se lambendo Um jumento já fedendo Mordido de cascavel Esse é o cenário fiel Da caatinga nordestina O Sertão é a vitamina Que me faz criar cordel Uma mãe-da-lua cantando Já no cair da noite clara E enganchada numa caiçara Uma velha cabra berrando Uma coruja me espiando Como quem mandava eu voltar Pude nela observar Que a noite ali é um mistério Nossa caatinga é um império Que a gente tem que preservar