Certo é o urubu Não precisa se esconder Sobrevoa a tristeza Não perturba sua vida Espera morrer pra comer Lá onde se mata Na cidade grande O cabra perde sua vida Arrancada das entranhas Sem saber o que fazer Na hora morta, a despedida Sem olhar pra trás Na estrada nua, seca e fria Que não volta mais O teu querer pertence ao céu E à imensidão Que a fome é luta que não cessa Na escuridão Velho urubu Sempre teve a dele Vida boa não se ensina Reparando nas menina Vez em quando o que comer Lá no fim da linha Onde a hora se avizinha Na cara do cabra boia O lixo que entope o poço O esgoto e a pia Na hora certa, na medida Do que não é mais Bebe da noite, come o dia O que o vento traz Pé nessa carne, nua, crua Peito aberto, vai Que lá do alto a terra é sua e se voa em paz Fé nessa rua, suja, tua Peito livre, vai Que dela mesma, vê-se a lua E se vive mais Fé nessa rua, suja, tua Peito livre Que dela mesma, vê-se a lua E se vive