Eu sou caboclo e nasci no lugarejo Fecho os olhos e até vejo da minha infância Quando eu brincava com o cavalinho de pau Correndo pelo quintal na inocência de criança Vejo a maninha embalando como um filho Uma boneca de milho com seus cabelos de trança E meu irmão puxando o rabo da cadela Mamãe gritando da janela Menino ela te avança Vejo a mamãe com seu vestido de chita E um lacinho de fita amarrado nas melenas Meu velho pai sentado lá na soleira Com um cigarro atrás da orelha Naquelas tardes morenas Vejo a galinha bem no terreiro de casa Ponhando embaixo das asas pra aquecer com suas penas Doze pintinhos que acabavam de nascer Era lindo a gente ver aquela bonita cena Vejo o monjolo, o engenho, o ribeirão O forno de assar pão, o paiol, e o curral Vejo o chiqueiro, o pilão, também a horta O coberto mas sem porta pra ferramenta braçal Carro de boi com a canga e o canzil Desbravando esse Brasil, o progresso afinal Os canarinhos borboletas multicores E os pequenos beija-flores revoando no quintal Hoje estou velho e morrendo na cidade Com o peso da idade tudo que faço me cansa O que me resta é lembrar que fui feliz Da tradição à raiz recebi como herança As minhas rugas e os meus cabelos brancos E da vida pra ser franco Eu só recebo cobrança Pensei menino, que o tempo não passava Que a velhice não chegava Me curvando a esperança Seu pudesse voltar aos tempos de outrora Eu queria ser agora, criancinha novamente Para viver o melhor tempo da vida Onde a ilusão colorida Pinta a inocência da gente