Eu me lembro de estar voando Como qualquer outro pássaro urbano Meio louco, meio doente Absolutamente perdido Em um mar de ruído e solidão coletiva A caminho da minha própria morte Quanto tempo um pardal sobrevive? Eu não saberia dizer Sou apenas um pardal Ao menos não tenho tamanho suficiente Para desintegrar minhas entranhas Em emaranhados de fios elétricos Em desalinhamento fatal E como tem fios elétricos nessa cidade Sobretudo nesse bairro Emaranhados em gambiarras mal ajustadas Deselegâncias tortas Olha só, eu, um simples pardal, discutindo estética Alinhamento, contraste, ênfase, hierarquia, movimento Proporção, ritmo, espaço, unidade Nada disso cabe a um pássaro discutir Distingo as cores, todas Tom sobre tom Olhos de águia E um corpo de um Papa sementes Feio, sujo e malvado Um malandro de asas na floresta de cimento Lá embaixo eu vejo todos os tipos Principalmente, tipos que não são bem tipos Mas uma mistura de personagens Aglomerados entre a tristeza e a perversão Todos estão andando em direção da sua própria morte Alguns deles, talvez Nem ao menos sabem disso Depositam sua confiança ao ser supremo Eu não tenho alma Tenho asas Voo, sou um simples pardal Bebo água suja e um telhado entregue aos musgos Voo, sou apenas um pardal