Olha só aquele mano na porta do bar Discutindo com outro cara, já sei no que vai dar Tretas e mais tretas, violência em vão Aí truta, aquele moleque vai ficar órfão Presa fácil para o tráfico, o menino de 10 anos Perdeu seu pai cedo, agora só tem seus manos Revoltado, bastardo, um promissor vilão Mais um bandido dando lucro à fábrica de caixão Às vezes eu me pergunto, será que ele passa dos 18? Mas ele contrariou as estatísticas, um bagulho muito doido De menor, o perigoso, ele causou muita confusão Foi destaque até na Globo para toda nação Agora de maior, tomava muito mais cuidado O menino de 10 anos cresceu, está na lista dos procurados Certa vez colou comigo, me chamou até de "tio" Sua história era triste, causava até arrepio Me pediu um conselho, e eu não soube te dar Nunca tive porra nenhuma, minha história vou te contar Se parece com a sua, um bagulho muito louco Cometi vários crimes e resolvi parar um pouco Talvez seja meu conselho pra você nesse momento É foda, eu sei, mas por enquanto dá um tempo O moleque olhou pra mim e riu, sentindo graça "Aí tio, de rocha, minha vida tá uma desgraça" Se despediu de mim e foi até a esquina Lá encontrou uns manos, tinha também uma mina Fiquei me perguntando se a vida dele ia mudar De repente ele entrou em um carro, algo quente vai rolar Um assalto à vista ou um acerto de contas Mas logo avistei os gambé fazendo a ronda Desceu os manos todos, a revista foi ligeira Mas o moleque que ia mudar cometeu uma besteira Ele tava maquinado, e os gambé não perdoa, mermão O moleque tomou um tapa e logo foi de encontro ao chão O PM foi ligeiro, parecia até aposta Algemou o truta rápido, apoiando o joelho nas suas costas Isso só aumenta a raiva, também já passei por isso O moleque era procurado, vai tomar um chá de sumiço Todo mundo já sabia, os gambé o odiavam O moleque era esperto, os PM se incomodavam Eu até imaginava onde ele iria aparecer Cemitério clandestino pra todo mundo ver É triste o bagulho, mas é a realidade Vários manos como ele, morrendo com pouca idade Poderia ter sido eu a alguns anos atrás Mas a bola da vez tava no camburão, parte de trás "Porra vagabundo", comentei com um amigo meu "Esse aí já era, um abraço, se fudeu" Naquele menino de 10 anos comecei a me lembrar Viu seu pai ser morto em uma briga de bar Entrou cedo para o crime, em forma de protesto O crime não compensa, eh, você conhece o resto Fui no seu enterro, praticamente vazio Estilo de bandido, fazia mó frio Silêncio sepulcral, um clima bem sombrio Desordem e regresso na porra do Brasil O caixão foi descendo a 7 palmos de profundidade Só tinha eu, uma mina e um moleque de uns 10 anos de idade Logo imaginei: deve ser uns parentes Segurando suas bíblias, pode crer, devem ser crentes Ofereci meus pêsames aquela jovem moça Me surpreendi ao saber que era sua esposa Logo olhei para o menino, foi como puxar o gatilho Aquele moleque de 10 anos era o seu filho Tudo De Novo...