O preço da farinha não altera o produto Pra deixar nóia apodrecendo embaixo do viaduto E o político com os pés na mesa, fumando charuto cubano Vendo o tráfico aumentar cada vez mais todo ano O julgamento já começou, nove horas de discussão O promotor te acusando, convencendo o juiz cuzão Ladrão julgando ladrão, um Brasil de ironias Um país de igualdade? Nunca vi tantas hipocrisias Represento os esquecidos, aquele povo sem voz Que através do tiro protesta, mas quem liga pra nós O deputado e o governador? Não. A polícia? Nem pensar Justiceiro com sua máscara que vem pra favela nos matar Olha com desprezo pro viciado de crack na rua Amanhã ele te seqüestra e te mata e a culpa é sua Olha pra lua, agradeça pelo ótimo dia que você teve Enquanto isso o mendigo é queimado por quem sai da festa Rave Dizem que os bandidos têm apetite pela destruição Fazer o que, se a fome aperta e não tem na cozinha nem um pão Sorrio da sua vontade de voltar a ser criança, de ser inocente Não condiz com minha infância, que tento apagar da minha mente Um pai filho da puta, que cansou de quebrar meus dentes Enquanto você jogava vídeo game e zoava com a cara dos crentes Enfim, são fatos do passado que interferem no futuro Pra deixar espalhada a sua foto de "procura-se" no muro Regeneração é uma palavra que não combina na cadeia Tenta dividir uma cela com 20 manos, a situação é feia Depois que é libertado, nada muda, essa é a realidade Não dá pra trabalhar, ex-presidiário se fode na cidade Como pode meu Deus, tanta desigualdade de tratamento O pobre é condenado e o rico alega debilitação pelo momento Logo é liberado e some pra algum país do velho continente E o pobre apodrece na cadeia, só acumulando ódio na mente Tá na hora de um plebiscito pra bombardear o Congresso Se isso um dia acontecer, já reservo o meu ingresso Pros manos da rua não tem mais como pedir paciência Pra levantar grana o jeito é roubar, mas isso dói na consciência Mas antes minha mãe sorrindo, do que ela vendo minha carcaça Esqueça a Mercedez do playboy, não vale a pena matar essa raça Todos vamos vencer na vida, o suficiente pra sustentar a molecada Jogar na cara da vadia rica, não precisamos mais roubar essa safada Não caia na armadilha do vidro do EcoSport aberto no farol Lá dentro você tromba a morte, seu corpo fica secando ao sol Porque o gambé que tiver a chance vai te matar sem pensar Mais um serviço executado, menos um ladrão pra roubar A real é que no fim nada muda no cenário nacional A cidade é maravilhosa? Só se for pro tráfico, aí é mal Se é pra incomodar a classe rica, estamos aí juntos no Rap Se quiserem nos censurar, seqüestramos e passamos a fita crepe Já chega dessa mordaça psicológica, que nos limitou por anos Podemos não ter voz, mas a união faz a força dos manos A luta continua eternamente, o sistema aqui não prevalece Servimos de bode expiatório pra um país que nunca cresce Enfim, todos nós estamos aqui nessa vida de passagem Um brinde pros guerreiros que já nasceram em desvantagem As crianças carentes, aos negros de passado escravizado Aos verdadeiros brasileiros que esse país tem desprezado