Pai, eu sei que eu tropeço, sou falha ambulante Pequeno no mundo, mas sigo confiante Me mostra o caminho, segura minha mão Essa estrada é estreita, cheia de pressão Diz que essa dor não vai morar em mim Que o choro tem prazo, que a luz vem no fim Ainda é cedo pra fechar meu caixão Tenho sonhos vivos batendo no coração Às vezes me encaro no vidro quebrado Não vejo mais o menino educado Bate a saudade do tempo inocente Quando o mal era jogo, não era corrente Pulava o portão, subia na laje Queria ser vilão só pela coragem Hoje o vilão usa terno e discurso O mundo é torto, injusto, confuso Vejo ódio, fome, vejo ingratidão Me dá um coração limpo igual ao Teu, então Que saiba amar mesmo quando sangrar Que aprenda a perdoar pra não me afogar Seja feita a Tua vontade, eu aceito Mas tem misericórdia dos meus defeitos Tem escolha que a vida joga sem aviso Nem sempre eu entendo, mas sigo vivo Minha mãe avisava: Cuidado com tudo Cresci aprendendo que o mundo é sujo Nem sombra é abrigo, nem sorriso é real Aprendi cedo o peso do mal Ô Pai, me ensina a andar, me guia Sem Ti eu caio todo dia Me faz forte igual Davi na batalha Não deixa morrer o que em mim ainda sonha Cura as feridas que o tempo deixou Se a dor vem à noite, que o dia seja amor Afasta o mal, limpa essa energia Protege as quebradas, salva nossas vidas Livra as periferias do som da sirene Da bala perdida que sempre tem nome Criança no chão, futuro interrompido Mas ainda acreditam num amanhã mais digno Promessas bonitas em prédios gigantes Enquanto o povo sobrevive distante Quantas vezes a cor virou acusação Quantas vezes o olhar virou humilhação A mente resiste, mas o corpo vacila Já senti de perto a beira do fim da linha Mesmo assim, eu sigo, não vou recuar Sei que Tu me lês antes de eu falar Tu me conheces por dentro, além do que eu mostro Sabe meus medos, conhece meus monstros Quando eu me perco, Tu sabe onde estou Me chama pelo nome, nunca me soltou Se eu cair, me levanta outra vez Ainda tô aqui pela Tua graça, eu sei Ô Pai, me ensina a andar, me guia Sem Ti eu caio todo dia Me faz forte igual Davi na batalha Não deixa morrer o que em mim ainda sonha Cura as feridas que o tempo deixou Se a dor vem à noite, que o dia seja amor Diz que esse choro não mora em mim Que amanhã sorrir vai fazer sentido, enfim Pai, eu sou pequeno, imperfeito, eu sei Mas sigo caminhando porque eu confio em Você Ainda é cedo pra me despedir Tenho muito pra viver, muito pra construir