Mais um dia abençoado no Rio de Janeiro, né? Sol nas favelas, helicóptero no céu, e o povo com fé Parece até cena de filme, só que sem final feliz Acordei com o som da paz, bum-bum, ratatá É o som do progresso descendo pra me salvar Dizem que é operação pra manter tudo seguro Engraçado, o medo é o único muro É pro bem da nação, o chefe falou na TV Mas o corpo no beco não conseguiu responder Disseram que era bandido, mas ninguém quis ver O RG da esperança sumiu no escuro do poder Tá tranquilo, tá favorável, dizem no jornal Mais uma vitória, com sorriso nacional Operação da paz, tiro, drone e confete Parece carnaval, só falta o chiclete Entram de farda, saem de mito Filme de ação com final maldito Tudo sob controle, o porta-voz diz Mas a favela conta outra raiz Sobe o morro, desce a estatística Dado frio, lágrima realista Prometeram justiça, trouxeram o medo Mas o povo aprendeu a rezar cedo E quem vende a cena? Quem segura o microfone? Quem morre no enredo, quem ganha o nome? Parece que a paz é produto de vitrine Enquanto o sangue escorre na esquina do cine Tá tranquilo, tá favorável, dizem no jornal Mais uma vitória, com sorriso nacional Operação da paz, tiro, drone e confete Parece carnaval, só falta o chiclete Mais um dia termina, o sol se põe no morro Amanhã tem replay, mesmo script, novo corpo E o narrador repete, voz firme, padrão A cidade segue em paz, só mudou o caixão