Visto o tempo como um manto de espera Enquanto o mundo gira em outra esfera Sirvo calor em pratos invisíveis Enquanto recebo gestos impassíveis O teto abriga quem não me enxerga E a casa pulsa, mas a alma se entrega Chega a noite, com promessas frias E eu despejo luz em vazias vigílias No chão que arrumo com mãos de afeto Deitam descasos, dormindo quieto Mas se o abismo se estende entre nós Eu sussurro versos com mil e uma voz O peso do silêncio me traduz Mas carrego a aurora, mesmo sem luz Sou ponte, sou raiz que insiste Mesmo quando a ausência persiste Sou verbo que dança em vertigem Sou flor que se abre sem origem O toque vem quando se quer domínio Mas foge ao gesto que pede carinho A pele implora por conexão E recebe controle em forma de mão Há um eco doce que tudo escuta Mas o orgulho encobre a alma bruta O tempo colhe o que não se planta E a ternura se torna espanta Não sou muralha, sou brisa, sou fonte Mas toda fonte também se esconde Quando a sede não vê seu valor A água recua, levando o sabor O peso do silêncio me traduz Mas carrego a aurora, mesmo sem luz Sou ponte, sou raiz que insiste Mesmo quando a ausência persiste Sou verbo que dança em vertigem Sou flor que se abre sem origem Se um dia calar, será por amor Ao som da paz, ao fim da dor Pois até o Sol precisa se pôr Pra renascer com mais fervor Não peço perdão por ser poesia Por cobrir a noite com melodia Se meu silêncio te desconcerta É que minha essência não é porta aberta