(Me digam que valor tem O negro que nasce gaúcho? Se for pra queimar cartucho Até que negro convém Não quero ofender ninguém Mas é preciso dizer A história está aí pra ver O negro sempre foi bravo Trazido aqui como um escravo Pra lutar e depois morrer) Nasci no lugar errado E passei, ninguém me viu Vivi num mundo pequeno Com gente que me feriu Sou negro que foi pisado Quem me pisou não sentiu Meu corpo foi massacrado Mas mesmo assim resistiu Eu luto por liberdade Sou curandor da ferida Onde não tem igualdade Negro também não tem vida Eu venho de muito longe Sou gente desconhecida Estou procurando a terra Que por Deus foi prometida (No meu corpo eu trago marcas De lutas e revolucoes Tenho cheiro dos porões Dos amontoados, das barcas Gemidos, gritos e fuzarcas A ansiedade das fugas Os pés rachados, verrugas Resultado de barro e terra A vida é uma eterna guerra Escondida atrás das rugas) Uns dizem que sou gaúcho Sou brasileiro, será? Pra'o lugar de onde vim Um dia ainda vou voltar Espero que no caminho Alguém possa me ajudar Me mostrando o rumo certo Onde tenho que chegar Dou tanto amor ao Rio Grande Porque motivo, não sei Devido a cor da minha pele A meu favor não tem lei Pra defender minha origem Tudo de mim eu já dei Porém morri em porongos E agora ressuscitei (Vai em frente negro Vai lutar por teus direitos)