No céu azul não há nuvem errante A terra seca clama em desalento A vida se desfaz sob o Sol constante O gado magro geme no tormento A esperança resiste, mas distante Nos olhos do sertão, um triste intento O solo é pó que o vento leva ao norte Rachado, clama ao céu por umidade Os rios, antes vivos, têm a morte Cisterna seca amarga a saudade Enquanto o homem enfrenta sua sorte Plantando sonhos na aridez da realidade O mandacaru floresce em desafio Testemunha do tempo que castiga Em meio ao vazio, renasce o bravio A cada passo, a fé se instiga O sertanejo, forte como um rio Canta e trabalha, embora a dor persiga O Sol impiedoso fere a visão Enquanto o chão esquenta os pés cansados E o suor é sal que rega o coração Os sonhos são vales ensolarados Que vivem no sertão, na aspiração De dias amenos, jamais negados As noites, longas, trazem o refrigério Estrelas adornam o céu infinito Enquanto o vento sussurra seu mistério O canto das corujas, tão bonito Resgata a alma em meio ao hemisfério Do vasto sertão, silencioso e aflito E quando a chuva, enfim, beija o chão O sertanejo sorri, alma lavada Renova-se a fé, rompe-se a prisão A terra estéril torna-se abençoada E da dor brota nova geração O ciclo recomeça, em nova jornada