Se a raiva se esvai em vão
Sem laço, sem chão, sem voz
Marcha veloz rumo ao abismo
Se a vida atropela, então
O que há de melhor em nós
Um passo atrás talvez revele outro caminho
Escreve a frase no espelho
Pra que se confunda com teu próprio rosto
E cada olhar sobre si mesmo traga à boca o gosto
Não esquecer!
Um corpo que cai do penhasco, engana-se como convém
Ao longo da queda, repete pra si: Até aqui tudo bem
Lá, onde dorme a chama
Quero ir lá, onde cala a voz
Por baixo das máscaras, do peso que esmaga
Mesmo desfigurada a vida ainda pulsa e estende o braço
Abra espaço!
Não há solução dentro do teu conforto!
Não há solução sem um passo atrás!
Vela a passagem do tempo
Pesa o que se desperdiça
O que se fez do teu canto
Que já não mais expressa espanto
E cala conivente enquanto a vida grita
Abre o sentido da angústia
Ao drama da dor coletiva
Sopro da chama que acende
Em meio à farsa não se rende
Um aviso de incêndio indica uma saída
Desce até a origem das coisas
Encara a ferida que liga a desgraça a você
Tece, com raiva e paciência
As tramas da fuga pra além dos pulmões do poder
Jura vingança ao massacre
Cultiva a recusa e abraça aqueles que estão sempre a contravento em contramão