Dê um gole de parati Pra eu tentar contar sobre o que eu li Engolir o inenarrável Abafar o inescapável Que desce goela abaixo Nas ruelas invisíveis Cheirando a solidão Memórias de escravidão O corpo negro não tem voz No corpo estéril da cidade Que enxota e empurra pros morros O que não pode digerir Mais um gole de parati Eu preciso me inspirar Pra falar desse romance Pra entender o seu alcance O malandro Cassi Jones Violonista eficiente Iludiu a pobre moça Com o seu sorriso quente Sua voz aqui dançava o corpo chega arqueava Pra trás o olho revirava A libido de quem olhava O malandro vigarista Se apoiava na justiça Pois sabia que pra ela As pobres pretas da favela Não valiam uma só bagatela E o aborto de Clara É o aborto dos pretos E pobres açoitados Barriga afora da central Do cartão postal Progressista, coisa e tal Desamparo atual