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Detentos do Rap

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Lembranças que eu trago no meu pensamento
Da vida que eu tive só de dor e lamento
Muitas coisas ruins, bem poucos foram as boas
As drogas, violência, o crime, o sofrimento pra minha coroa
Não pensava em nada, zoava a noite inteira
Aos 18 anos de idade a primeira besteira
Eu fiz um filho com a mina que já não era firmeza
Moleque burro e virgem foi pela beleza
Pergunto para Deus como tudo isso pode me acontecer
(Mas onde começou tudo isso?)
Foi onde tudo pode acontecer
(E essa mina da onde você a conheceu?)
A mina foi no role
Não pague pra ver

Pra eu ser mais específico e claro
Foi um lugar denominado Samba do Capão
Apenas 2 minutos de conversa e o destino daquela mina: meu Opalão
Deveria ter me ligado, quando ela tinha vergonha de pegar na minha mão
Deveria ter visto o valor daquela mina quando ela curtia o som do Tigrão
Mano, meu desespero foi lançado
Quando eu descobri que da minha pessoa aquela mina tinha engravidado
A notícia fez com que minha vida virasse pelo avesso
Mas, pelas burrices, até que eu mereço

Com calma e incompetência aquela mina sabia o que ela queria
Disse pra que eu trincasse com dinheiro, pois amanhã seria um novo dia
Sem pensar em nada, trinquei, mas não sabia
Juro por deus do céu que meu sonho era ter aquela menina minha filha
(O quê? Mas cê não teve a menina?)
Mas ela sabia o que ela queria, truta
(Como assim sabia o que ela queria, mano?)
(O que aconteceu, mano? Calma aí, calma aí irmão)
Ela tirou minha filha
(Puta mano, não!) Ela tirou minha filha

Quando eu soube da notícia eu só queria morrer
Desfiz de pais, de familiares, só você vendo pra você crer
Desamparado, vi as cenas da minha vida se passando
E eu sonhava desesperadamente com aquela menininha me chamando

Papai você não sabia
Mas eu tinha meus sonhos, sonhava em crescer ao seu lado
Conheci um anjo chamado mamãe
Mas a maldade do mundo foi mais forte
Ela foi mais forte papai

Pra eu me recuperar foi foda, arranjei um trampo, a escola
Deixei de lado a moda, passei a jogar bola
Larguei realmente as drogas
Resolvi dar continuidade na minha vida
Deixei de lado os caras da vida bandida
Descobri que a partir daquele momento
A vida teria que ser a minha sigla
Mas, mal eu sabia que o mau ainda estava por vir
Eu me sentia estranho, tudo que eu comia fazia mal pra mim
Remédios, simpatias, igrejas, nada daquilo adiantava
Foi ai que um resultado de exame médico apontava
Mano, tiveram que fazer 3, 4, 5 pra eu poder ler, ver e crer
Que no meu sangue, na minha vida, rolava o vírus HIV
Pensava que aquelas coisas só aconteceriam com os outros
Depois eu parei pensei: O que que valeu o meu esforço?

O desespero fez com que eu fosse atrás daquela mina
(Mano, cê não fez isso)
O desespero vez com que eu me tornasse apenas mais um homicida
(Mano, cê não matou a mina não, né?)
Mesmo local, parecia até aquela primeira cena
E aquele dia ela colou comigo pensando que eu queria algum esquema
Mas não, sem Opalão, canhão na mão, dor no coração
Desespero, pânico, choro, a sequência
Sangue no chão, vários tiros, cheiro de pólvora e um miolo estourado
Talvez o melhor momento da minha vida, aquele momento, eu me sentia vingado

Poucos minutos chegou a polícia, eu nem me lembro mais da minha reação
Eu me lembro do martelo batendo, bum, 6 anos de detenção
Carandiru, várias histórias, vários parceiros, vários relatos
Linha de frente, ideia, cadeado
Acerto com funcionário ali dentro era mato
3 anos de sofrimento, engravatado em meu alvará
Graças a Deus consegui voltar para a harmonia do meu lar

Que lar que nada! Hoje, no quarto, na fase terminal no hospital
Talvez, ladrão, seja por isso que eu esteja mal
Aos 23 anos longe do carinho da minha família
Imaginando lá longe o rostinho daquela menina, minha filha
Pensando direito no mano firmeza que eu poderia ter sido
Saudade da minha mãe que poderia tá aqui do meu lado comigo
Lembrando dos meus manos que cresceram do meu lado
Triste pelas pessoas que reclamam da vida, sem nunca ter passado

Mas eu oro pela alma daquela mina
Que eu to ligado que ela não foi firmeza
Eu oro pelos manos que se ilude
E troca a vida apenas pelo copo de cerveja
Eu peço ao Pai para que a história deles seja diferente da minha
Eu peço ao Pai que aquele mano e aquela mina use camisinha
Truta, dê valor a vida, tô ligado que o barato instiga
Não escolha a dedo as minas, minha hora está chegando
Muitos desandando
Jesus está voltando, o mundo se acabando
E o tempo esgotando

Final de uma vida sem glória
Truta leve-me na memória, tô saindo fora
A cabeça e alma longe do mal
No quarto de hospital, na fase terminal
Talvez seja por isso que eu esteja mal
Talvez seja por isso, mano, que eu esteja mal

(Aí mano, você está comigo aí no coração aí mano
Te levar na memória aí, vou estar contigo até o fim aí
Pode contar comigo pro que der e vier)

Mas o que me deixa mais triste
Não é saber que eu vou falecer entre hoje ou amanhã
O que me deixa mais triste é saber que essa história não é só minha
A molecada tinha que saber que a rosa é bela
Mas traz com ela um espinho e esse espinho traz muita maldade
O que me deixa mais triste ainda
É saber que o desespero faz com que muitas mães
Deixem de lado uma coisa linda que Deus deixou na Terra
Chamado filho
Leve-me na memória, porque o meu futuro é a morte
O meu futuro é a morte

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