Os dias viravam noites, a noite em madrugada E a porteira rangia, sempre calada Primeiro, um dia, dois, a casa estranhava Depois, de repente, uma semana passava O cheiro do café, o pão na mesa farta Ficou só lembrança, uma saudade que arde e maltrata O violão chora, a viola lamente, a sanfona faz doer Um assombro, um silêncio, sem saber o porquê E o rancho sem alma, o tempo sem fim Uma sombra ausente, um buraco em mim O mês virou ano, a poeira cobriu o quintal E a má-língua do povo, um veneno fatal Era um bom sujeito, mas pirou a cabeça! Abandonou a vida, a família, a beleza! Diziam que traía, que tinha outro alguém Histórias torpes, tecidas por um desdém O violão chora, a viola lamente, a sanfona faz doer Um assombro, um silêncio, sem saber o porquê E o rancho sem alma, o tempo sem fim Uma sombra ausente, um buraco em mim Até que um dia, a poeira assentou na janela Chegou uma carta, dobrada e amarela A caligrafia fraca, o papel já cansado Um suspiro contido, um pranto calado Me perdoe a partida, a dor que causei A doença me rondava, não suportei Não quis ser um peso, uma sombra pra vocês Talvez com Deus eu já esteja, em outras vezes E o mistério se esvaiu, como fumaça no ar A verdade doída, difícil de aceitar As vozes se calaram, o julgamento findo Restou só a saudade, um amor sem sentido O violão chora, a viola lamente, a sanfona faz doer A verdade veio à tona, pra gente entender E o rancho sem alma, o tempo sem fim A ausência presente, dentro de mim