Ele vinha sempre tarde, depois do silêncio do mundo Sabe aquele tipo de homem que já desistiu de pedir desculpas? Sentava no canto, sem pressa, como quem espera o passado voltar Trazia nos olhos mais perguntas que vontade Falava pouco, mas doía muito E quando falava, era comigo – mesmo que fosse só pra dentro Dizia que gostava da minha voz Porque ela não pedia nada em troca A gente se encontrava ali, sem agenda Um copo na mesa, dois corações improvisados Ele dizia que não teve sorte, nem herdeiro E quando o menino nasceu, me olhou diferente Não perguntou de onde vinha Só perguntou se precisava de nome Eu calei Ele entendeu No cabaré da última rua Ninguém espera a verdade Só que ela veio, mesmo sem convite Na forma de um abraço, de um silêncio aceito Ele não precisava de um exame Só de um motivo pra ficar Mas ele dizia que o menino tinha meu sorriso Como se amar bastasse pra resolver o mundo E ali, pela primeira vez, quase resolveu No fim, ele foi parar num lugar que cheira a fim Asilo tem cheiro de esquecimento E lá, o nome do meu filho apareceu Sem sangue, sem parente – só presença No cabaré da última rua Ele encontrou algo que nunca teve Um filho que não era Mas foi E quando os outros vieram contar moedas Meu menino já carregava o que era mais caro O último olhar daquele velho Que nunca precisou provar que amou