O corpo ainda treme
Mas a pele já não pesa
As asas cortadas cresceram tortas
Mas ainda sabem da pressa
Levo no peito silêncios
Cicatrizes que brilham em sombra
Não sobrou força pra gritar
Mas ainda resta quem voa
Não sou mais casulo
Mas também não sou flor
Sou o meio entre o que fui
E o que ainda tem cor
Esse é o último voo das borboletas
Não é fuga, nem chegada
É só um adeus sem palavras
De quem cansou da fachada
Esse é o último voo
Não espera aplauso, nem pena
É leve como poeira no vento
Mas carrega o peso de uma vida inteira
Tentei caber em vitrine
Em padrões que me desfaziam
Mas borboletas não nascem pra gaiola
Nem pra promessas que mentiam
O céu nunca foi convite
Foi só distância demais
E mesmo assim, eu subo
Com as asas que restaram em paz
Não procuro pouso
Nem quem vá entender
Às vezes, o último voo
É só pra desaparecer
Esse é o último voo das borboletas
Sem laço, sem direção
Mas é meu
E nele, eu não devo mais explicação
Esse é o fim sem grito
A beleza que se desfaz
Um corpo ferido que voa
Mesmo sem voltar jamais
Talvez eu não volte
Talvez eu nunca tenha chegado
Mas pela primeira vez
Sou só minha
Último voo das borboletas
Frágil
Silencioso
Final
Não quero plateia
Nem perdão
Só altura o suficiente
Pra não precisar olhar pra baixo