Prezado amigo, escrevo para esclarecer
Que, mesmo antes de nascer
Meu coração se fez humano por ser suburbano
E o HIV
Deu positivo porque meus irmãos
Padecem de doença igual
E um degrau atrás de outro degrau
Me leva de Joelhos à igreja onde Deus me diz
Que o humano é estranho, sim
Porque é meu pai e, ai de mim
Nós nos desentendemos sempre
E é assim que se faz
Canções, escadas, catedrais
Que depois não visitamos mais
Dão de nós o melhor testemunho
Prezado amigo, eu vi sair do papel
A pedra e o fogo que há no céu
E tudo parecia letra de chorinho
E então também chorei
Os meus avós e o pai são os degraus
Aonde eu piso em direção ao caos
Mas posso ver na beira goiabeiras
Limoeiros, pés de sapoti
E a penha volta aqui
Feito o mito de uma ressurreição
A hóstia é pedra, hei de ralar!
A santa não pode cumprir o que não me crismar
O pai que eu amo não demora
A valsa chora e eu sei que chora
Pelas Penhas vou inventar
Até que a própria virgem mande eu descansar