Bebo quente
Mesmo sabendo que queima
Desce lento
Rói minha última teia
Eu queria parar
Mas eu gosto do gosto
Me tornei minha própria
Bebida de desgosto
Todo mundo ama
Me convencem
Mas eu sinto o veneno
Invadindo minha alma
Eu preciso beber
Mesmo que sangre por dentro
Mesmo que arranhe o pensamento
Mesmo que eu quebre devagar
Eu preciso beber
Mesmo com a mão tremendo
Mesmo sabendo
Que isso vai me enterrar
Xícaras em fila
Vontades em ruínas
Ritual bonito
Pra esconder minhas feridas
Eu vicio no controle
De parecer acordada
Mas por dentro eu grito
E a xícara é a minha espada
Quero parar
Mas não quero perder
Esse fogo torto
Que me faz parecer
Eu preciso beber
Mesmo que arda demais
Mesmo que acabe com o que eu sou
Mesmo que nada volte mais
Eu preciso beber
Mesmo quando odeio o gosto
Mas amar o vício
É o meu maior desgosto
Eles não veem
Eles não sabem
Que cada gole
É mais um pacto
Não é só café
É a desculpa que eu uso
Pra continuar aqui
Pra continuar quebrando
Eu preciso beber
Mesmo sem querer viver
Mesmo sem sentir prazer
Eu preciso
Me manter de pé
Na base da cafeína
Na beira da ruína
Eu sou a causa
E a vítima também