Em cada foto, um rosto que eu já fui, um estranho
Um eco antigo que ainda me possui, um desarranjo
Você coleciona essas versões de mim sem ter um plano?
Guardadas em caixas, num outono soberano
Qual delas você fala mais alto, qual você faz sorrir?
Qual delas te assombra na penumbra antes de dormir?
Pergunto ao espelho, mas ele não sabe me dizer
Qual dos meus eus ainda vive em você
Eu e meus momentos, de qual você se lembra?
Da risada solta ou da voz que era de pedra?
Abençoado seja cada meu momento
Amaldiçoado seja todo este tormento
Sem você, por você, com você, um encantamento
Que me prende e me liberta neste sentimento
Reencarno as cenas em que a gente se perdeu por nada
Num labirinto que a saudade construída na madrugada
Sou o fantasma que habita o corredor da sua mente
E a luz do sol que invade seu quarto de repente
Fujo, incondicionalmente, só pra te encontrar de novo
Preso nesse feitiço, nesse eterno jogo tolo
É um vício te buscar em cada esquina do passado
Em cada rosto desconhecido, um traço seu guardado
Eu e meus momentos, de qual você se lembra?
Da risada solta ou da voz que era de pedra?
Abençoado seja cada meu momento
Amaldiçoado seja todo este tormento
Sem você, por você, com você, um encantamento
Que me prende e me liberta neste sentimento
Lúcido, em algum momento, eu vou entender
Que o tempo não apagado, só me ensina a conviver
Com todas as sombras que a sua ausência deixou
E com a fagulha de luz que um dia me encontrou
Não me lembro, sempre lembro
Sempre esqueço, não te esqueço
Momento
Meu tormento
Momento
Meu encantamento