Quando eu vi, já passava das seis
Café frio e jornal sobre a mesa
E pensei que veria outra vez
Outras chances, outras surpresas
Quando vi, já era sexta-feira
Ansiando a segunda enfim
Na quarta eu jurei vou viver
E o relógio gargalha de mim
A infância passou num estalo
Um pião, uma bola, um quintal
E vieram as contas, trabalho
E o sonho ficou pro final
Se eu soubesse o dever que era a vida
Tinha posto o relógio a quebrar
Pintado as paredes da cozinha
E deixado a criança me levar
Se eu soubesse o segredo da vida
Eu deixava o jantar no fogão
E dançava sozinho na sala
Sem ter hora, sem ter direção
Eu faria um barquinho de tempo
Navegando entre o ontem e o talvez
Deitaria no colo da infância
Com um novo olhar dessa vez
Não me falem do tempo que resta
Nem da pressa que o mundo ensinou
Pois eu guardo um pedaço de festa
Que o relógio da vida deixou