Luzes piscam ao longe, sombras que dançam sem dono
Carros passam velozes, sussurros calados, o mesmo tom
Nas esquinas, rostos perdem a cor
E na multidão, todo mundo é só mais um vulto em desamor
A cidade sussurra segredos no frio da madrugada
Mas ninguém escuta, o silêncio é só fachada
É um blues sem melodia, que ecoa entre prédios vazios
Notas perdidas no vento, aço e concreto nos fios
Onde sonhos morrem de pé, como folhas que caem do céu
E a cidade segue, indiferente, ao som de seu próprio véu
Pessoas de olhares duros, olhos cegos de ambição
Promessas jogadas ao vento, pedindo redenção
Cada rua é uma história que o tempo já esqueceu
Cada porta é uma escolha, mas ninguém se arrependeu
O velho e o jovem se cruzam, sem ver, sem notar
A mesma cidade que os prende, os obriga a caminhar
É um blues de asfalto e vidro, de aço e solidão
Um lamento entre as ruas, sem saída, sem direção
Onde a esperança insiste, mas a realidade é imã e véu
E cada alma, ao final, volta só pro mesmo céu
Nos bares, um refúgio, onde o riso é só disfarce
Brindam ao que perderam, ao peso que o peito arraste
E cada palavra dita, cada som que se apaga no bar
É só mais um blues perdido, querendo ao mundo voltar
E nas esquinas da noite, ecos de sonhos se vão
O que restou do que fomos, são sombras no chão
É um blues pra essa cidade, um brinde ao seu aço frio
Onde a saudade ecoa e a verdade encontra seu vazio
Cada rua, uma página, cada esquina, um adeus
Num lugar onde o céu se perde, e o amanhã nunca é seu
Então brindo sozinho, ao que já não tem cor
À cidade sem fim, ao blues do amor sem amor
Enquanto as luzes apagam, num mudo entardecer
Sigo tocando o blues, até o dia morrer