Eu falo com as sombras no corredor
Elas respondem com silêncio e dor
Tem alguém me olhando do espelho trincado
Mas não sou eu, nem sei quem tem falado
Me abrace, mesmo que não exista
Diz que vai ficar, mesmo que insista
Que eu tô bem
Mas não tô não
É só mais uma voz na contramão
A janela chora junto comigo
E o mundo parece tão inimigo
O relógio parou às três da manhã
Meu abraço é de névoa, fumaça e afã
Abraço imaginário, frio, necessário
É tudo que me resta nesse calendário
Abraço inventado, tão desesperado
Me aperta por dentro e sai calado
Você é real ou sou eu que invento?
Tô caindo devagar dentro do vento
O chão sumiu, meu corpo é um eco
E o amor virou um vulto cego
As paredes falam, mas não com voz
É um grito antigo entre nós dois
Tento lembrar se alguém me amou
Ou se fui só um quadro que ninguém pendurou
Tem risos distantes no teto rachado
Como se zombassem do meu fardo calado
Eu ando em círculos dentro de mim
E me perco sempre no mesmo fim
A porta está trancada por dentro
E a chave se escondeu no tempo
Eu imploro pra parar de pensar
Mas pensar é o único lar
Abraço imaginário, frio, necessário
É tudo que me resta nesse calendário
Abraço inventado, tão desesperado
Me aperta por dentro e sai calado
Você é real ou sou eu que invento?
Tô caindo devagar dentro do vento
O chão sumiu, meu corpo é um eco
E o amor virou um vulto cego
Se um dia eu não voltar do meu silêncio
Saiba que lutei contra esse imenso
Vazio que pesa mais que o corpo
E que morri buscando um ombro
Abraço imaginário, meu relicário
De um mundo onde eu não fui necessário
Abraço sonhado, nunca encontrado
Só queria não ter desabado