Hoje acordei com o peito em ruína
E um terço quebrado entre os dedos trêmulos
Falei com Deus pela rachadura da parede
Mas Ele não respondeu ou fui eu que gritei demais?
Tem fumaça nos espelhos da memória
E vozes que dizem que eu sou só mais um
Tentei rezar, mas o silêncio me morde
Tentei sorrir, mas esqueci como se faz
Na esquina da fé com a loucura
Tem um banco vazio e meu nome escrito
Vontade de ir à igreja, mas não sei se lá entra pecador
Com essa alma rasgada e os olhos cheios de horror
Será que tem lugar pra quem fala com o nada?
Será que Deus ainda ouve quem já perdeu a estrada?
Meu quarto virou catedral às avessas
Com santos de papel e preces que sangram
Me disseram que fé é andar sem ver
Mas eu só vejo sombras e ouço gritos
Caminho entre os bancos vazios da minha mente
E prego minha culpa em uma cruz de madeira podre
Confesso ao vento, confesso aos tijolos
E no amém, ninguém responde
Vontade de ir à igreja, mas não sei se lá entra pecador
Com essa alma rasgada e os olhos cheios de horror
Será que tem lugar pra quem vive perdido?
Ou só pros que fingem estar bem vestidos?
Se um dia eu entrar, que seja aos prantos
Com meu pecado pendurado no peito
Talvez lá dentro alguém diga, entre
A cruz é pra quem caiu e ainda acredita no recomeço