O escravo não tinha escolha
Ou trabalhava, ou morria a chibatadas

O trabalhador moderno também não tem escolha
Ou ele trampa, ou a sociedade te joga às margens

Minha intenção é boa, enche o coração
Eu tô no início, eu tô a fim de libertação
Eu sou bem melhor do que você pensa
É que o trabalhador não tem tempo, é cem por cento presença
Na primeira faz hm, a segunda faz pensar
Eu tenho um sonho e não vou parar
Eu estou cansado na solidão
Minhas palavras não valem nada na escuridão
Não faça o mal, pregue o bem
Sem olhar a quem
Talvez eu seja só um louco solitário
Nem malandro, nem otário, eu só quero o necessário
Por que não um revolucionário?
Antigo e moderno, imortal
É o sonho liberal
Astral positivo, como um sentimento do coração
Esse verso aqui eu escrevi à mão
Vim pra acordar seu raciocínio
Vim pra destruir o sistema, governo maligno
Isso é só o começo
Daqui pra frente é só progresso
Uni-duni-tê, eu tenho pra você
Palavras de reflexão ou uma vida sem porquê

Dois, zero, dois, cinco!
Depois de Cristo, a indignação escrava ressuscita outra vez
O assalariado é o bola da vez

Faz frio no escritório do início ao fim
Eu tô sentado de camiseta, uniforme e calça jeans
É o som que vem do jeans
E aí, chama o líder e o cliente
O estági e o gerente
Se os outros também vêm
Por ordem, tudo bem
Olhe você, quem é quem
Colou dois líderes, um assinou pra mim
Com cara de festim

Ei, mano, sai fora
Não vale a pena ir por este caminho aí
Ontem à noite eu pressenti, eles tramando nossa demissão
Porque perderam o controle de um cidadão
Eu pensei comigo, meu irmão

Mas não, não, outro dia eles falaram
De aumentar o salário e de uma promoção
Mas de máscaras e farsa, aparência e enganação
Eles enganam rapidinho toda a população
Mas quem sou eu pra falar de quem trama e engana?
Nem dá
Nunca saí da minha própria lama
Você aceita o que vem, enche o bolso feliz
Compra tudo o que vê, é o capitalismo que diz
Nós vamos terminar, tipo todo mundo lá
Se sonhava em jogar uma bola, cantar numa roda
Um sorriso no rosto, lindo de ver
Exemplo de vida, mó paz
Mas começou a ouvir os pais

Ih, mano, outra vida, outro pique
Só correria, sem libertação
Esquece de tudo, até sua saúde, irmão
Agora o celular é mente e coração
Na virada do ano, no Natal, eu vi o mano
Cê tem que ver, com o coração partido
Mente toda zoada, todo dividido
Com a mina grávida de mais um filho
Sem saber o que fazer, perderam o brilho
Agora não oferece mais perigo
O sistema formou mais um pobre fodido
Estressado e endividado

Um dia um CLT veio me falar
Disse para eu não me arriscar
Aceitar a vida que Deus nos dá
Será que eu deveria aceitar?
O sistema manipula tudo ao seu redor
Pela TV, celular, sem dó
Te oferece dinheiro, financia sua alma
Depois te cobra em dobro, comendo na palma
Transforma um sonhador classe A
Num trabalhador sem pensar

Quinhentos anos se passaram e ninguém viu
Alguma mudança real no Brasil
Trocaram a escravidão por trabalho o dia inteiro
Sentado atrás de uma máquina por dinheiro
Queimar a nuca de pedreiro
Ou tomar rodo no trem de marreteiro
Talvez a professora que tenta ensinar o pobre antes do sinal
Ou a que procura vida nova na microempresarial
Essa é a família pobre real de onde eu vim
Um príncipe guerreiro que luta até o fim

E eu me mudo, mas eu não me iludo
Meus mano, parceiro, eu sei de tudo
Em troca de dinheiro e família bem
Nós desiste do sonho, se sacrifica por quem?
E os boy viajando o mundo inteiro sem mim
Aí não dá, tamo fudido assim
Mas tem gente até pior
Cada um, cada um eu só quero ser melhor
Tem mano que fica feliz e fala sério
Trabalha de segunda à sexta, por um fim de semana, velho
Tic-tac, já era, acabou
Tic-tac, sua vida se esgotou
E o que você fez por você?
Pelos outros, pro mundo, pra ver
Agora vá em busca de saúde
Mas não se ilude
Reviva a criança que existe em você
Aquela que sonha em poder

Para os mano da quebrada de infância
Eu sei, a vida não é uma Disneylândia
De luta em luta
Continuar sonhador é uma labuta
É foda, foda é assistir os ricos viver
Nada daquilo pra você
Playboy forgado e você trouxa
Roubado, um escravo
Feliz por ter ganhado, só um oitavo

Dinheiro
Sinto até o mau cheiro
Se você não viu o sinal
Acha que essa vida é real
Tira a touca e abre a boca
Sem máscara e sem filtro, você e sua mina
Dá um, dois, é fumaça ou neblina

Irmão, permaneça vivo
Sonhando sem algemas depois de adulto
Contrariando o sistema
Não se iluda com comercial de TV, nem se engana
Você não precisa de status, nem fama
Seu carro e sua grana não te reluz
Não precisa ser loira dos olhos azuis
Seja apenas mais um brasileiro
Apoiado por bilhões de guerreiros
O sistema não sabe o que fez
Ser escravo moderno é a bola da vez