Me deixe na primeira esquina
Depois daquela multidão
Por mais que esteja feminina
Perigo na situação
Olhares me desvestem roupas
Em mim fumaça e oração
Das dores em memória, penso
Existe alguma salvação?
Me deixe na segunda esquina
Com quina pro meu coração
Onde a estrada não me é ferina
Mas sempre existe aquele vão
Você me disse: Eu te amo
Eu disse: Não me ama não
As outras caem nesse engano
E olha como elas tão
Me deixa na terceira esquina
Que cruza minha afeição
Que luta todo santo dia
Pra ter amor entre os irmão
Eu não me reconheço viva
A morte é perseguição
É quando estou com a família
Madrinha não me larga não
Me esqueça nessa outra esquina
Entregue a minha intuição
As luzes não me iluminam
Mas sempre existe apreensão
O abraço que recebo hoje
É sempre da escuridão
É frio, torto e sem coragem
Mas é a minha proteção
Se não morre de bala, morre de faca
Se me vira de costas, tomo pedrada
Espancada, arrastada, executada
Quantas dandaras sangraram por essa estrada?
Humilhada, chorando e me perguntando
Há quantas andam todos aqueles santos?
Que de mim usaram e se lambuzaram
Mas que o soco pesou mais que o afago
Com bala ou com pedra, com ou sem farda
Eles usando o divino como arma
Quantas de mim, das fortes as fracas
Terão de ser assim ceifadas?