Existe gente sem sorte
Mas eu sou uma exceção
Onde conto a minha história
E a minha situação
Sempre aparece quem diga
Ô sorte pouca do cão
Fui comer pirão de peixe, na casa de bastião
Na segunda colherada, me engasguei com pirão
Passei nuns cinco minutos, sem achar respiração
Me deram um morro nas costas, quase descola um pulmão
Não sei como eu não morri, eita engasgada do cão
Fui apartar um bezerro, no curral do meu irmão
Nem desconfiei que a vaca, tava com mal intenção
Ela enganchou uma ponta, no fundo do meu calção
Me jogou do outro lado, da cerca eu caí no chão
Quase me lasco da queda, ô vaca doida do cão
Um dia andando no mato, perdi de tudo a noção
Dei de cara com um buraco, e já fui enfiando a mão
Lá dentro um bicho deu uma, dentada no meu dedão
Quase que eu não controlava, a saída do feijão
Oh dor amaldiçoada, eita dentada do cão
Na casa duma casada, quando eu sentei no colchão
O corno gritou lá fora, oh mulher abra o portão
Entrei de baixo da cama, e tinha um escorpião
Eu danei a bunda em cima, ele danou o ferrão
E eu sem poder gritar, ô ferroada do cão
Uma vez um marimbondo, cutuquei sem precisão
Uma abelha deu na venta, ficou ver um pimentão
Duas uma em cada olho, fiquei quase sem visão
Escapei porque por sorte, tinha perto um cacimbão
Quase eu morria afogado, ô marimbondo do cão
Casei com uma mulher, que parecia um bujão
As orelhas de abano, os olhos de camarão
O nariz tinha o formato, do focinho dum furão
E quando estava dormindo, roncava igual um barrão
Ainda aguentei dois anos, ô mulher feia do cão