Vender o país que é de todos
Vender o país que não é meu
Vender um país de passo em passo
Vender um país que não é teu
Morar num país, morar no mundo
Morar num país é estar em paz
Morar num país é ter descanso
Morar num país é se acalmar
Imaginação terra bonita
Imaginação terra de Deus
O nosso país poço fecundo
O nosso país sonho sem fim
Viver o país que não tem fundos
Viver o país que não tem fim
Viver o país que não tem partes
Que é de ninguém, de cada um
Mas esse país não tem um nome
Não tem cidadãos, não tem sua lei
Mas esse país não tem bandeira
A força e o rosto de ninguém
Fazer um país é ter defesas
Pra terra que tem em cada um
Deixar respirar, sobrar alento
Pra desabrochar brotos e flor
Cantar a canção é coisa linda
Cantar a canção é encantador
Fazer a canção é um trabalho
Fazer a canção, trabalho bom
Mas para fazer precisa tempo
Mas para fazer precisa amor
Precisa energia, precisa d’água
Precisa de pão, de cobertor
Vender o país vender as casas
Água, litoral, estrada e cor
Abrir cicatriz, criar o medo
A angústia o terror do amanhã
Criar solidão, criar distância
Desejo de amor, que não se diz
E compra calor, compra alegria
Lá vem a migalha onde era pão
O mundo feliz é, certo, um sonho
Um mundo feliz é enganador
Não serve pedir mundos perfeitos
Não serve querer o fim da dor
Agora, sentir que existe um rumo
Agora, sentir algo em comum
É preciso sim, a cada segundo
Para ser alguém plural e um
Vender o país para quem lucra
Consome e no fim já se eximiu
É como arrancar a árvore inteira
Pra colher um fruto e mais nenhum
Vender o país que coisa louca
Vender o país é se vender
Vender o país é vender tudo
Comida, descanso, rumo, e paz
Vender o país que coisa louca
Vender o país é se vender
Vender o país é vender tudo
Comida, descanso, rumo, e paz