É a mais pura verdade
O caso que eu vou contar
Quem quiser pode nem acreditar
Se bem que, aviso já
Mentiroso, eu não sou
Quem quiser pode ir lá ver, que eu não vou
De mais a mais porque é
Que eu havia de ir ver
O que já lá vi com estes dois
Por quem sois
Crede em mim
Vou contar-vos enfim
Este caso verdadeiro
Aí vai, tim-tim por tim-tim
Verdadeiro e não só
Posso chamar-lhe atroz
A este caso que me estrangula a voz
Não penseis que exagero
Não julgueis que é demais
E que abuso de pimentas e sais
Não, bem pelo contrário
Minha musa indigente
Nem sequer está à altura
Faz figura bem triste
Mas bom, já que se insiste
Estou disposto a revelar
No que este caso consiste
Ora bem, foi assim
Este caso fatal
Que foi pra pior
Depois de estar mal
Não me lembro da hora
Nem se era noite ou dia
Só sei que algo no ar se pressentia
E os pressentimentos
São a modos que mosquitos
A esvoaçarem no ar
Esmagar
Dois ou três
Se alivia o freguês
Não anula o problema
Nem o resolve de vez
Então seguiu-se o resto
Do que estava pra vir
Nem vos conto, pra vos não combalir
Foi um vê se te avias
Um vai-vem muito louco
Um toma-lá-dá-cá e fica com o troco
Teve um pouco de tudo
E foi pouco pró que teve
Sem ter mais nem porquê
Já se vê pelo aparato
Que foi de esfola-gato
Este caso que no meu modesto verso relato
Bem, e agora que já
Estais familiarizados
Com o assunto e
Seus assins e assados
E que tendes presente
A complexidade
De apartar de mexerico a verdade
Podereis ter ficado
Com a estranha sensação
De que eu nada disse, e porém
Também muitos doutores
Falam bem, fazem flores
Mas não dizem nada, nada
Ao discursar, meus senhores