Correntes apertam, goteira marca o tempo
O chão cheira a ferro, e ele chega sorrindo lento
Yamori. Jason. Não importa o nome
Só sei que ele veio buscar mais um corte
Hoje, vamos brincar com números, sim?
Alicate na mão, sorriso até o fim
Mil menos sete, Kaneki. Vai contando
E enquanto fala, vai meu dedo arrancando
Eu fecho os olhos
Mil
A dor sobe como fogo sob a pele, febril
Novecentos e noventa e três
E com isso, mais um grito se desfaz de vez
Mil
Novecentos e noventa e três
A matemática da dor não tem cortês
Novecentos e oitenta e seis
Cada número suga o que resta da vez
Novecentos e setenta e nove
Eu tento pensar, mas a sanidade não move
Novecentos e setenta e dois
Me torno menos humano a cada voz
Eu grito por dentro. Por fora, só tremo
Jason fala de escolhas como se fossem um veneno
Dois reféns. Um vive. Um morre
Eu escolho
E dentro de mim, algo escorre
A fome cresce. A carne pulsa
E Rize aparece como sombra que me insulta
Você é fraco, Kaneki
Ela ri enquanto Jason me corta em sequência de três
O chão some. Os nomes somem
Me vejo do lado de fora, assistindo como um drone
E a contagem segue
Novecentos e sessenta e cinco
Me pergunto se esse número é o que me define
Novecentos e cinquenta e oito
Meus dedos tortos tentam manter o rosto
Novecentos e cinquenta e um
Mas o Ken gentil já virou mais um
Novecentos e quarenta e quatro
Rize sussurra: Corte-o, seja o corte, seja o ato
Novecentos e trinta e sete
Eu não conto mais. Agora, só repete
Então eu paro. Não por escolha, mas por fim
A contagem não faz sentido se eu não sou mais mim
Olho Jason nos olhos
Vejo medo disfarçado
E percebo: Quem tortura é quem mais tá quebrado
Sorrio pela primeira vez em dias
E mordo sua carne
Sem mais fantasias
Quebro seus ossos como ele quebrou os meus
Mas não com raiva
Com calma que vem dos céus
O cabelo cai branco, o olhar é aço
Não sou Ken. Não sou fraco
Sou o monstro que você criou, refinado
E agora conto ao contrário
Do mil ao nada, você é meu legado
Mil
Novecentos e noventa e três
Agora é você que aprende de vez
Novecentos e oitenta e seis
Cada osso seu, rachado sem altivez
Novecentos e setenta e nove
Não é vingança. É justiça que resolve
Novecentos e setenta e dois
Jason, você não é mais feroz que meus dois
Obrigado por me mostrar quem sou
A dor não me destruiu
Me moldou
Mil menos sete
E agora
Você cala