Vim das florestas negras
Pro asfalto quente da Babilônia
Sou mais um de pés no chão
Chapéu na cabeça, copo na mão
E nos ombros o peso da insônia
Fui arrancado do ventre da mata
Pro ruído das ruas, pra metrópole ingrata
No frio da cidade, me fiz companheiro
Do jornal, do conhaque, do cigarro ligeiro
Vim de lá da floresta
Como o sopro da manhã
A zoar quem me detesta
Aprendi com um xamã
A dançar e fazer festa
A natureza de anfitriã
Nascido nas matas, filho da incerteza
Assentado no concreto, cantando a leveza
Que o mundo é fumaça, o tempo é faísca
E só quem vive é quem se arrisca
A tarde com os manos, no mesmo lamento
Pé na mesa, palavras ao vento
Eles dizem: Tudo vai melhorar, irmão!
Só não sabem quando, nem qual direção
Mas canto, porque cantar é o que me resta
Nasci na floresta, vivo no caos da cidade
Semeio canções beirando a verdade
Rastaman sou na alma e não de ocasião
Meu reggae é raiz e brota da contradição
No meio da noite, entre o barulho e a dor
Meu copo esvazia e sem companhia
Minha sombra dança sem nenhum temor
Na alma, uma dúvida me desafia
Pra onde vai quem se esconde todo dia?